E é assim que no Diário de Noticias de hoje dia 6 de Julho podemos ler:
«Pela segunda vez em dois anos, os sindicatos afectos à CGTP e à UGT juntam hoje esforços numa greve geral de toda a administração pública, que poderá ser uma das maiores dos últimos tempos, com expressão significativa prevista em especial para os sectores da saúde e Segurança Social. Se assim for, não surpreenderá, uma vez que reagem contra aquilo que é, na leitura do próprio Governo, "o maior pacote reformista desde o 25 de Abril". Um rol que prevê a reorganização e extinção de serviços, listas de funcionários excedentários, redução salarial para os não integrados, transferência de funções para privados, limites à progressão das carreiras, novas regras de avaliação de desempenho, generalização do contrato individual e mudanças no acesso à aposentação.
Os ânimos foram ainda incendiados pela lógica do processo negocial seguida pelo Governo, que, segundo os sindicatos foi demasiado curto, e encetado apenas a pré-aprovação dos diplomas em Conselho de Ministros. O Governo, por seu lado, não gostou que antes mesmo de concluído o processo negocial, a Frente Comum já tivesse convocado a greve, a que aderiram pouco tempo depois as duas estruturas afectas à UGT, Sindicatos dos Quadros Técnicos do Estado (STE) e Fesap. O certo é que foram exíguas as alterações que o Executivo acedeu fazer.
O diploma da mobilidade - ao abrigo do qual os funcionários considerados excedentários serão transferidos para outros serviços ou ficarão em casa com redução salarial -, é o ponto mais polémico da reforma do Estado que estará em vigor até final do ano, ou, o mais tardar, no início de 2007. Mas num recuo histórico verifica-se que já em 1992, em plena era cavaquista, a chamada "lei dos disponíveis" foi um dos factores a motivar a greve geral de 13 de Novembro. A referida lei, apesar de inscrita no papel, acabara, no entanto, por nunca ter aplicação expressiva, situação que o Governo de Durão Barroso tentou alterar e o de José Sócrates se propõe agora mudar radicalmente.
A paralisação de 1992 contestava ainda a proposta de actualização salarial entre 4,5% e 5,5%, para uma inflação prevista em torno dos 9%, numa era anterior ao euro, em que a inflação estava bem menos controlada.
Em Maio de 2000 o Governo de Guterres enfrentava a sua primeira greve geral e o foco da discórdia era também salarial. Se é verdade que as reivindicações salariais foram perdendo terreno na liderança das razões a justificar a marcação de greves - porque cada vez mais questões se levantam -, também não é menos verdade que a erosão do poder de compra dos funcionários se tornou uma constante, em particular desde 2001, com congelamento dos salários para os funcionários com salários superiores a mil euros, e actualizações abaixo da inflação, que, no seu conjunto, geraram uma perda acumulada nos últimos seis anos em tornos dos 6%. Esta "moderação salarial", para usar a expressão dos últimos governos, é vista como um ajustamento para contrabalançar os períodos em que a massa salarial da função pública cresceu acima da média europeia. Depois de aprovados os diplomas da reforma do Estado, os sindicatos pediram a fiscalização da sua constitucionalidade, jogando agora as hipóteses de pequenas alterações no Parlamento, mas só no que toca à mobilidade, pois só este vai ao Parlamento, o que também merece a contestação sindical.»